No início deste ano, um conjunto de medidas publicadas pelo Ministério da Saúde e Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) para estimular o parto normal e, consequentemente, diminuir as cesarianas no país, deu o que falar. Entre outras regras, a resolução dá o direito de a paciente ser informada se o médico é ou não adepto da cesariana. Com isso, a gestante poderá solicitar ao plano de saúde os percentuais de cirurgias feitas pelo médico e pelo hospital onde pretende ter seu bebê. Se a operadora se recusar a passar as informações solicitadas, poderá ser multada em R$ 25 mil.
A medida tem com base os altos índices de partos cesáreos no Brasil, que, de acordo com o Ministério da Saúde, chegam a somar 84% no setor privado e 40% na rede pública. A recomendação geral da OMS (Organização Mundial da Saúde) é de 15%.
O número de cesarianas na Região Central também chama a atenção. Conforme dados da 4ª Coordenadoria Regional de Saúde (4ª CRS), que abrange 32 municípios, incluindo Santa Maria, a média nos hospitais (públicos e privados) da região nos últimos cinco anos é de 64%. Na cidade, o índice gira em torno de 66%, número bem acima da recomendação (veja gráficos abaixo).
No Hospital Universitário de Santa Maria (Husm), que recebe pacientes de Santa Maria e de cidades da região, o número se manteve próximo dos 60%. Francisco Galarreta, chefe de Medicina Fetal do Husm, explica que o hospital é referência em partos de alto risco, o que contribui para o elevado índice de cesarianas realizadas.
_ Os municípios que circundam a cidade encaminham pacientes para cesárea, assim como médicos de outros municípios encaminham suas pacientes para cá, já com a indicação de cesariana, pois o município em que ela fez o pré-natal não tem obstetra ou anestesista para realizar o parto normal _ comenta o médico.
Já no Hospital Municipal Casa de Saúde, a realidade é diferente: somente 22,5% das gestantes que chegam à instituição realizam cesariana. Para a ginecologista e obstetra Maria Aparecida Brizola Mayer, a qualificação do hospital é que permite obter um bom índice de partos normais e baixo número de cesáreas:
_ O parto vaginal é o de menor risco e de melhor qualidade no nascimento do bebê. Explicamos a diferença para as gestantes, mas vai da escolha de cada uma. Temos sete médicos obstetras no quadro clínico e uma equipe de plantão presencial pronta para qualquer procedimento. A ordem da casa é a humanização do parto.
Apesar do alerta, medidas são vistas com cautela e preocupação
Quando não há indicação médica, a cesariana aumenta em 120 vezes o risco de problemas respiratórios para o recém-nascido e triplica o risco de morte da mãe, segundo o Ministério da Saúde. Para o médico Floriano Soeiro de Souza Neto, ginecologista e obstetra do Husm e delegado do Conselho Regional de Medicina (Cremers) em Santa Maria, a cesárea não ocasiona complicações à mãe, mas o parto normal é melhor para o bebê. Segundo ele, os índices de problemas urogenitais, como incontinência urinária, são maiores entre as mulheres que passaram pelo parto vaginal.
_ A mulher tem lacerações e lesões neurológicas que não regridem, mas cicatrizam. Isso ocasiona prolapsos (popularmente conhecida como bexiga caída), mas não é sempre que acontece, e é mais comum apresentar na mulher após os 50 anos _ comenta.
A analista de customer service Elisa Vargas, 31 anos, está grávida do primeiro filho, o Miguel, e com cesariana marcada para segunda-feira. A escolha pelo procedimento se deu após conversas com amigas e outras gestantes.
_ Eu acho a cesárea mais tranquila, sem sofrimento. O parto normal é muito desgastante, e eu queria ficar bem, descansada. Fiz o pré-natal me preparando para a cesariana. Em momento algum me passou pela cabeça outra opção. Para mim, é uma decisão bem particular ainda. É uma escolha da mulher. Se temos este recurso, por que não optar?_ questiona.